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Criatividade é um dom?

Albert Einstein é considerado um dos cientistas mais brilhantes de todos os tempos. Sua capacidade de formular hipóteses através de experimentação mental era extraordinária. Algumas teorias e princípios formulados pelo famoso físico somente puderam ser comprovadas anos mais tarde quando, só então, foi possível desenvolver equipamentos que testassem a hipótese. E geralmente ele estava certo.

Thomas Alva Edison foi um inventor prolífico. Teria chego a registrar mais de duas mil patentes, várias de grande interesse e viabilidade comercial. É amplamente lembrado como o inventor da lâmpada elétrica, mas atuou na invenção de diversos outros componentes movidos à eletricidade. De fato, foi fundador da Edison Eletric Light Company, que, após diversas fusões e alterações estatutárias, se tornaria a General Eletric, empresa que continua ativa em diversos mercados ainda hoje.

Rivalizando com Edison, no mesmo período, Nikola Tesla também impulsionou profundas mudanças no ramo da eletricidade. Registrou mais de 300 patentes e criou o motor elétrico de corrente alternada, que revolucionou o setor. Tesla teria feito testes de transmissão de energia sem fio, isso há mais de um século. Assim como Einstein, elaborava projetos com experimentação mental. Visualizava uma solução e dizia que daria certo. "Como sabe?", às vezes questionavam. Ele respondia: "Simples, porque eu estou vendo funcionar".

Einstein, Edison e Tesla

Ao observar a história e os feitos desses três ilustres personagens, podemos tender a acreditar que eles nasceram com algo especial, como uma inteligência excepcional e o "dom" da criatividade. Assim, o desempenho deles no ensino tradicional deve ter sido excepcional, certo?

Bom, não foi bem assim. Einstein e Edison eram tidos como "estúpidos" na escola. O segundo nem chegou a ir muito longe, abandonando o estudo formal ainda jovem. Tesla chegou a fazer três anos de um curso superior, em sua terra natal, mas abandonou a universidade. Na época, estava viciado em jogos de azar e completamente alheio aos compromissos acadêmicos. Dos três, somente Einstein acabou concluindo o ensino universitário e se tornando professor, mas este não era o melhor prognóstico de seus tutores quando era jovem.

Mas independentemente do desempenho acadêmico, certamente deve haver uma fagulha a mais na mente destes homens. Afinal, quantas ideias incríveis eles tiveram, e não somente uma ou duas, mas várias cada um deles. Há um "dom" envolvido, algo superior, não é mesmo?

O que sabemos é que nada do tipo foi identificado até o momento. O cérebro de Einstein, por exemplo, foi retirado antes de sua cremação e se tornou objeto de estudo durante anos. Algumas hipóteses até foram formuladas, mas nada substancial. 

Então, de onde provém tanta criatividade? A melhor pista que temos é que talvez esse não seja um fator influenciado por algo de nascença ou pela formação acadêmica. O mais provável é que tenha relação com a forma como estas pessoas pensam. 

Carol Dewek é uma renomada psicóloga norte-americana que escreveu o livro "Mindset: a nova psicologia do sucesso". Nesta obra, a autora apresentou a teoria acerca de dois modelos de mentalidade, ou "mindset", como ela chama: fixo e de crescimento.

Explicando resumidamente, quem detém a mentalidade fixa é aquele que entende que as características pessoais são imutáveis: se você é ruim em matemática, você é assim e pronto. É uma característica sua e não há o que fazer. Já com a mentalidade de crescimento, a pessoa é aquela que acredita que as habilidades e características são aprendidas ou adquiridas através do esforço.

A pessoa de mentalidade fixa é aquela avessa aos riscos, e que diante algum desafio ou obstáculo,  opta geralmente por desistir. A de mentalidade de crescimento é aquela que entende que o cada passo da jornada é exatamente isso: somente um passo. Inclusive eventuais erros.

As pessoas de mentalidade fixa tem medo do fracasso, pois entendem que tal situação as define. Como pensam que as características de alguém são imutáveis, muitas vezes desistem antes de tentar, pois se tentarem e "der errado", mostrarão quem são. Enquanto isso, as pessoas com mentalidade de crescimento não tem medo de fracassar vez após vez, pois cada erro ou derrota é um aprendizado, que vai se somando à experiência e formando a escada para o sucesso. Portanto, as pessoas com mentalidade de crescimento possuem uma tendência de produzirem mais, afinal tem menor aversão ao erro.

Tal teoria parece explicar nossos três personagens. Einstein publicou mais de trezentos trabalhos científicos além de mais de uma centena de trabalhos não científicos. Alguns foram amplamente reconhecidos, mas outros ignorados. Mesmo assim, continuou a escrever e publicar trabalhos, dos mais variados temas, durante toda a vida, sem esmorecer. 

Da mesma forma, Thomas Edison ficou conhecido por ter tentado quase mil experimentos para desenvolver a lâmpada elétrica. Quando questionado de as tentativas anteriores que deram errado não o deixavam frustado pela perda de tempo, teria dito que não foram tentativas que deram errado, mas que ele havia descoberto mil formas que não funcionam. E a cada tentativa que não funcionava, ele se aproximava mais do êxito.

Tesla também era conhecido por conduzir experimentos em seu laboratório de forma contínua. Nunca se casou, pois alegava que uma esposa atrapalharia o andamento de seus trabalhos. Dormia pouquíssimas horas por dia e testava diversos componentes, excluindo hipóteses e formulando novas ideias após cada tentativa.

Assim, extraímos mais dois traços em comum destes três gênios: o esforço e a tolerância a erros. Tais características parecem confirmar a teoria de Dewek acerca da mentalidade de crescimento. 

Podemos ainda perceber que existe um componente estatístico envolvido: como todos eles produziram em grande quantidade, havia maior chance de alguma das ideias serem realmente proveitosas. E quanto mais produziam, maior ficava essa probabilidade.

Mas um aviso: Carol Dewek explica que, apesar de apresentar a teoria como uma dualidade, a verdade é que todos nós podemos ter um pouco de cada tipo de mentalidade, e isso a depender de cada área de nossas vidas. Podemos ter uma mentalidade fixa em nosso relacionamento e de crescimento em nosso trabalho, por exemplo. Cabe a cada um procurar desenvolver a mentalidade de crescimento nos aspectos em que se encontrar mais vulnerável à mentalidade fixa.

Além disso, é prudente observar nossos gênios produziram de forma notável em áreas onde encontraram suas paixões. Edison e Tesla amavam trabalhar com eletricidade. Einstein era apaixonado por física quântica. Dessa forna, vemos que a combinação da mentalidade de crescimento, ou seja, uma valorização do esforço, combinado com o encontro de propósito, é o que pode desencadear uma vida repleta de ideias e soluções criativas.

E é por isso a maioria dos estudiosos hoje tende a concordar que a criatividade não é um dom, mas uma habilidade disponível a todos, de forma até natural. E como observamos nos exemplos acima, uma combinação entre a mentalidade de crescimento e um propósito (paixão) bem definimos pode fazer fluir a criatividade de forma extraordinária.

Comentários

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